segunda-feira, novembro 06, 2006

O vizinho assassinado!

Já não me lembro do dia exacto em que isto se passou, sei que foi um domingo em Novembro, ou dia 6 ou dia 13, mas o que se passou foi o seguinte: após um sábado de noitada (muito provavelmente no kmš lol) acordei já bastante tarde, por volta da hora de almoço ou até mesmo depois (oh que espanto!). O pessoal lá de casa foi saindo para ir ao centro almoçar ou dar uma volta, e em casa fiquei apenas eu e a Maria. Eu estava a fazer um trabalhito para uma qualquer cadeira e ela estava na despensa com o portátil na janela, ao frio a roubar a net ao vizinho =). Começámos a ouvir berros de mulher e também choro mas não ligámos, pensando que seria alguma discussão numa das casas vizinhas (numa zona de vivendas). Passado algum tempo começámos a gozar com a situação e questionarmo-nos do que se estaria a passar, pois já não a podíamos ouvir!! Eu pensei que fosse um caso de violência doméstica! Olhei pela janela das traseiras mas como não vi nada voltei ao trabalho (que trabalhador!...). Recordo-me perfeitamente de nessa tarde ter falado com o meu pai ao telefone e lhe contar a situação e dizer em tom de brincadeira “até parece que morreu alguém”…
Entretanto o pessoal começou a voltar para casa e disseram nos que estava um grande alarido de polícia e ambulâncias na casa em frente à nossa, do outro lado da rua. Só então, descobrimos que a situação era grave.
Quando saímos à rua deparámo-nos com um enorme arraial não só de polícias e afins mas também de vizinhos a olhar (afinal não é só o tuga que é “olheiro” lol) e de várias mulheres aos berros e a chorar, cá fora. Pensámos que tinha morrido alguém mas estranhámos a polícia… Enfim, alguém ganhou coragem para ir perguntar (acho que foi a Guida!) e foi aí que uma vizinha nos disse “o senhor que morava aqui foi ASSASSINADO!”. Assassinado!!!!!!!! Ali! : do outro lado da rua, a 20 metros da nossa porta! Assassinado é uma palavra difícil de ouvir, especialmente quando se trata do nosso vizinho, mesmo não o conhecendo. Por momentos uma pessoa pensa “epá, isto foi perto…”.
Nessa altura não percebemos nada do que se estava a passar. Parecia uma cena à CSI: havia uma fita azul da polícia a rodear a casa, impedindo a passagem, havia uns homenzinhos todos vestidos com fatos especiais brancos tipo ETs a inspeccionar tudo e mais alguma coisa…

Voltámos para casa e claro que os acontecimentos foram tema de conversa até ao fim do dia (e dias subsequentes). Mais tarde, nesse mesmo dia, vieram-nos bater à porta: era um dos 3 vizinhos eslovenos (estudantes) que viviam mesmo por baixo de nós. Disseram-nos para irmos a casa deles porque estava lá um inspector a fazer interrogatório. Perguntou-nos de onde éramos, o que estávamos a lazer, à quanto tempo lá vivíamos, etc. E também o que tínhamos feito o dia todo e se tínhamos visto ou ouvido alguma coisa. Todos respondemos que não. Ainda nos perguntou se tínhamos visto alguém com uma arma lol. Antes de sairmos disse-nos que não tivéssemos problemas nenhuns porque aquilo era um caso isolado, são casos pontuais que acontecem mas que não punham a nossa segurança em causa. Para terminar disse a frase cliché: “se se lembrarem de alguma coisa contactem-nos”. Exactamente como nos filmes!

Já ao final da noite, antes de me ir deitar resolvi dar mais uma olhadela pela janela e eis que vejo um “saco de plástico” branco, comprido a ser transportado para uma ambulância :( certamente foi uma das piores coisas que vi até hoje… Depois arrependi-me de ter ido à janela! Mais ninguém viu aquilo, apenas eu. Já sabíamos que nos íamos arriscar a tal coisa então o pessoal resolveu não ir mais à janela. Mas eu com aquela curiosidade à puto!... Argh!...

Ficámos um bocado assustados e nos dias seguintes resolvemos ter mais cuidado. Por exemplo, nem sempre fechávamos a porta à chave (mesmo com a casa vazia) e começámos a fazê-lo. Devo dizer que senti algum receio, mas controlável, até porque durante alguns dias a polícia esteve à porta da casa 24 horas por dia. Talvez me tenha sentido um pouco mais inseguro quando eles abandonaram a vigia. Por um lado fazia fé nas palavras do inspector e pensava que em todo o lado há assassinatos (sim, em Portugal também os há mas normalmente ouvimos falar deles pela televisão, não se passam com o “Sr. Zé” da frente!). Por outro lado, de vez em quando tinha aqueles pensamentos estúpidos tipo “tive o dia todo em casa, será que o gajo me viu e não quer deixar testemunhas?!” LOLOLOL.

Passaram-se os dias e as coisas voltaram à normalidade. Até me parece que soubemos lidar bem com o assunto, tínhamo-nos uns aos outros e funcionámos bem enquanto grupo nesta situação de algum stress. De vez em quando iam surgindo notícias sobre o caso, pelo que, cerca de um mês depois sabíamos mais ou menos o que se tinha passado: o Sr. foi morto com 4 tiros… Parece que a casa era recente e que ele a tinha construído com dinheiro emprestado pela máfia que actuava na antiga Jugoslávia. Quando o país se desintegrou eles passaram a actuar mais na Sérvia, Croácia e Bósnia mas neste caso tinham ido atrás do individuo – com nacionalidade eslovena e bósnia – onde ele estava, por não ter pago o que devia… Não me lembro bem mas penso que depois apanharam os autores do crime.

Resta dizer que o sitio em que vivíamos, “Murgle”, era um dos bairros mais “in” de Ljubljana (ou mesmo o mais). Quando eu dizia aos eslovenos que lá vivia, a reacção deles era de espanto: “A sério?! Nesse bairro vive o 1º ministro e o antigo presidente da república!” E realmente viam-se muitos carros de polícia, especialmente à noite. As casas não eram nada de especial, mas que aquilo tinha fama, tinha :)

Agora posso dizer que foi mais uma experiência do meu erasmus. Na altura não achei muita piada mas isso não mancha nem um pouquinho a cidade, o país ou a vivência que lá tive. Foi apenas um questão de azar. Aliás, azar teria sido se o assassino se enganasse e entrasse na casa em frente LOL…

A primeira foto é com a minha casa e a segunda éo outro lado da rua (é a da esquerda)...


3 comentários:

Anónimo disse...

Sim senhor...grande aventura! Eu não ia achar piadinha nenhuma se tivesse presenciado uma cena parecida com essa!

Prešeren disse...

lol. o que não nos mata torna-nos mais fortes!

Anónimo disse...

true ;)